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O DELICADO DESEQUILIBRO AMOROSO
por Macksen Luiz

"O que se quer refletir nesta peça camerística, escrita e dirigida por Igor Angelkorte, em cartaz no Teatro Café Pequeno, é tão evidente quanto a interferência urgente das atuais formas múltiplas de comunicação, e tão impalpáveis quanto as possíveis construções das afetividades. Casal marca encontro em um bar através das redes sociais, e se vê frente a frente, desencontrados de suas identidades desconhecidas. Despertada a atração sexual, a partir da qual se desarmam os mecanismos do processo amoroso, impulsionados pela urgência de expressar sentimentos. A plateia restrita a três dezenas de espectadores compartilha o confinamento emocional do que parece ser, a princípio, a extensão, via internet, de descompromissado contato. O adensamento dos contraditórios movimentos das pulsões, do desejo e do amor, descontroem as aproximações digitais fortuitas para revelar a permanência dos conflitos das volatéis maneiras de amar. A narrativa de Angelkorte lembra, pela impermanência dos sentimentos, o casal do filme-peça de Arnaldo Jabor, Eu te Amo, ao explorar os limites afetivos até o momento da ruptura. As cenas iniciais, que têm um aspecto mais figurativo, antecipam uma envolvência em que os diálogos são intensamente reais e simples, e o jogo dramático bem traçado. A ingenuidade na procura da intervenção da plateia e as referências excessivas à comunicação digital se tornam detalhes em meio à exposição do delicado desequilíbrio das relações dos nossos dias. A montagem, que traz a plateia para a cena, o que provoca intimidade quase física, contribui para estabelecer atmosfera tensa. Os atores – Chandelly Braz e Igor Angelkorte – projetam com fina sintonia os preâmbulos e o desfecho de vibrante discurso amoroso. Tanto Chandelly (uma bonita figura) quanto Angelkorte (uma presença bem marcada) demonstram naturalidade e espontaneidade que, antes de se ligar a interpretações naturalistas e a facilidades de atuações fotográficas, se originam na recriação de vivências de geração em pleno estado de ebulição." 

Fonte: macksenluiz

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